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Vozes Entre Grades: O Retorno de Flordelis à Música e a Disputa Pela Liberdade
Aos 63 anos, a ex-pastora e cantora gospel Flordelis dos Santos, hoje cumprindo pena de 50 anos na Penitenciária Talavera Bruce, no Rio de Janeiro, surpreendeu ao voltar aos palcos – ainda que de dentro de um presídio. Sua participação na segunda edição do concurso “Voz da Liberdade”, promovido pela Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro (SEAP-RJ), trouxe à tona não apenas sua relação visceral com a música, mas também as tensões e frustrações que marcam sua atual realidade.
O evento, que movimentou o sistema prisional, reuniu mais de 150 detentas em busca de reconhecimento artístico e de um sopro de esperança em meio ao confinamento. E foi justamente nesse palco improvável que Flordelis, conhecida por sua trajetória na música gospel, voltou a encarar um júri – desta vez formado por jornalistas, autoridades e representantes da cultura. A disputa foi intensa, e embora tenha chegado à grande final, o troféu acabou nas mãos de Cassiane Victoria Moura Martins, condenada por tráfico de drogas. A vitória de sua colega deixou em Flordelis uma marca de frustração visível, mas também revelou sua obstinação em permanecer viva por meio da arte.
Entre a Glória e o Silêncio: A Música Como Refúgio. Antes de se tornar ré e ocupar as manchetes policiais, Flordelis já era uma das vozes mais conhecidas do cenário gospel. Com dezenas de álbuns lançados, sua carreira era marcada por mensagens de fé, esperança e superação – ironicamente, temas que hoje ela mesma precisa revisitar para suportar o peso de uma sentença de meio século atrás das grades.
Na prisão, a artista encontrou na música o que talvez seja sua única forma de liberdade. Integrando o coral da unidade, ela não apenas canta, mas também incentiva outras presas a descobrirem a força transformadora da arte. Em sua fala durante o concurso, afirmou com firmeza:
“Cantar é uma parte essencial de quem eu sou.”
Para ela, a música não é apenas passatempo. É resistência. É terapia. É uma tentativa constante de resgatar uma identidade que o sistema prisional tenta apagar dia após dia. O “Voz da Liberdade”, com repertório que foi de MPB a samba, axé e louvores, representou para Flordelis mais que uma competição: foi a chance de provar que, mesmo dentro de muros e grades, sua essência artística continua intacta.
O Peso da Derrota e a Persistência da Voz
Se fora dos muros a perda de um prêmio poderia ser apenas uma derrota momentânea, dentro da prisão a sensação é outra. O olhar de frustração de Flordelis ao ver a vitória escapar para Cassiane Martins não foi apenas pelo troféu. Foi pela oportunidade de brilhar novamente, de ser reconhecida, de sentir-se, por instantes, além das limitações da cela.
Ainda assim, o episódio reforçou sua imagem de resistência. Flordelis não desistiu. Pelo contrário: deixou claro que seguirá usando a música como arma contra o silêncio imposto pela prisão. Para ela, a derrota foi apenas mais um capítulo de um enredo carregado de reviravoltas, perdas e tentativas de redenção.
A pergunta que ecoa é inevitável: até onde a música poderá sustentá-la diante de um destino já selado pela Justiça? O concurso terminou, os aplausos se apagaram, mas o suspense persiste. Entre grades e melodias, Flordelis segue cantando, como se cada nota fosse um pedido de liberdade – ou, talvez, de esquecimento.