O Início de um Hábito que Mudaria Tudo

O que começou como um gesto inocente, quase imperceptível, se transformou em um caminho de dor, segredos e consequências inimagináveis. Quando ainda era adolescente, Courtney Whithorn encontrou uma forma silenciosa de reagir ao tormento que sofria na escola: roer as unhas. Para muitos, um hábito comum. Para ela, o único mecanismo de defesa contra o bullying que a consumia diariamente. Cada mordida na unha era uma tentativa desesperada de silenciar o medo, esconder o sofrimento e recuperar um fragmento de controle sobre si mesma.

Mas com o passar dos meses, aquilo deixou de ser um alívio. A ansiedade cresceu e o hábito se tornou compulsão — um vício invisível aos olhos de quem a cercava, mas que criava uma ferida cada vez mais profunda. Em 2014, já morando na ensolarada Gold Coast, na Austrália, Courtney viveu um episódio que se tornaria o ponto de ruptura: em um momento de ansiedade intensa, arrancou por completo a unha de um dos polegares.

Naquele instante, ela não imaginava que o pior estava apenas começando.

Foi nos dias seguintes que algo estranho aconteceu. O dedo começou a escurecer, lentamente. O tom de pele mudava, ganhando um aspecto assustador. Mesmo alarmada, Courtney encontrou outra forma de esconder a realidade: fechou a mão, literalmente. Manteve o punho cerrado em público, disfarçou a dor, e por anos escondeu a verdade de amigos, colegas… até dos pais. A sombra estava crescendo.

O Diagnóstico que Ninguém Esperava

Somente em julho deste ano, aos 20 anos, a verdade finalmente veio à tona. Após anos de silêncio, medo e vergonha, Courtney decidiu buscar ajuda médica. O que ela ouviu dentro de um consultório mudou sua vida para sempre: havia desenvolvido um tipo raro e agressivo de câncer no polegar. A causa? O hábito compulsivo de roer unhas e o trauma físico constante que o dedo sofreu.

O impacto foi devastador. Courtney passou por quatro cirurgias, relatadas pelo jornal “Sun”, mas nenhuma trouxe a esperança que ela tanto desejava. Em uma das operações, realizada por um cirurgião plástico em Sydney, uma amostra de tecido foi enviada para biópsia — e o resultado confirmou o pior: melanoma.

A partir dali, a batalha deixou de ser visível apenas no dedo. Tornou-se interna, emocional, esmagadora. “Quando descobri que roer unhas era a causa do meu câncer, fiquei despedaçada”, confessou. A jovem revelou que escondia o polegar com o punho fechado, como se quisesse manter o pesadelo longe do mundo — e até de si mesma.

Recentemente, para conter a progressão do tumor, Courtney enfrentou a decisão mais difícil de sua vida: amputar parte do polegar direito. O que era um vício escondido cobrou um preço alto demais.

Agora, afastada da Griffiths University, onde precisou trancar a matrícula, ela encara um novo desafio: reaprender a escrever — justamente aquilo que sempre amou.

A onicofagia, nome técnico para o vício de roer unhas, parece inofensiva. Mas a história de Courtney é um grito silencioso sobre os perigos que hábitos compulsivos escondem. Uma lembrança sombria de que o corpo sempre fala — mesmo quando tentamos calá-lo.